Os tratados de Plutarco sobre a amizade, traduzidos num só volume, são obras autónomas, no tempo de composição, na dimensão e, em particular, no olhar diverso que o perspicaz autor dedica ao vasto tema da amizade. Todos eles, no entanto, dão testemunho do mundo social aristocrático helenístico, do fechamento da noção de cidadania e de liberdade política assente nas leis da Polis. Assim, gerir as relações interpessoais, seleccionar os amigos em função dos ganhos recolhidos, ser capaz de analisar minuciosamente o carácter e os propósitos dos que connosco privam é condição de tranquilidade, do sucesso e da felicidade a que um homem previdente deve aspirar. Num discurso cru e cheio de ocasiões de ironia, estes verdadeiros manuais de auto-ajuda denunciam os comportamentos que negam o conceito aristoteliano de amizade (Ética a Nicómaco, 1156 A-B).