Guardem o nome da autora deste livro: A capacidade de criar personagens verdadeiros determina o nível do escritor. Quem confunde Hamlet com qualquer outro personagem de Shakes-peare? Quem leu Victor Hugo e não se lembra de Jean Valjean? Quem leu Hemingway e ignorou o pescador Santiago? Ana Terra, personagem de Erico Verissimo, é tão real que até parece mentira que não o seja. Penso nisso ao concluir a leitura deste "Mosaico de Reflexos", onde Renata Machado nos apresenta Luísa, aquela menina que nasceu na sexta-feira, 13 de março de 1964, exatamente no dia em que o Presidente João Goulart abriu ao povo seu coração no maior comício da História do Brasil. E, por nos dizer a verdade, foi logo derrubado, exilado, vilipendiado e, depois de alguns anos, muito provavelmente, assassinado. Por meio dos contos, ou "mosaicos" da vida de Luísa, que a autora monta, e muito bem, sem nenhuma ordem cronológica, seus "reflexos" iluminam outros personagens importantes (como os tios Isadora e Hector) de uma época de mutilação democrática que marcou a família brasileira. Mas que provocou reações de ordem social e cultural capazes de gestar mulheres como Luísa, que souberam conquistar a liberdade por sua própria conta. Um livro essencialmente feminino e feminista? Sem nenhuma dúvida. E exatamente por isso também conquistará os leitores homens. Pois, como disse Marguerite Youcenar, ao ser eleita para a Academia Francesa, depois de trezentos e cinquenta anos de hegemonia masculina: "Acho que não cheguei aqui por ser mulher e sim pela qualidade dos meus livros". E qualidade literária é o que não falta a Renata Machado. Guardem este nome. Ela voltará. - Alcy Cheuiche, Porto Alegre Feira do Livro de 2018