O livro A experiência estética de Raul Brandão – palavras, destroços, ruínas, tem a intenção – e poder-se-ia dizer que tem mesmo a pretensão – de ser um veículo de divulgação não apenas do livro-objeto sobre o qual se debruça, isto é, sobre Húmus, mas do procedimento de realização estética utilizado pelo escritor, que, nascido na Foz do Douro em 1967 e falecido em Lisboa em 1930, continua perfeitamente um contemporâneo nosso, passado um século. Se, por vezes, parecer ao leitor mais experiente e conhecedor da obra brandoniana que algumas análises poderiam ser mais exploradas, peço desculpas e esclareço que se trata de uma obra de iniciação no universo da sua ficção, não obstante também possa ser alvo de interesse daqueles que desejem, de alguma forma, observar o modo como entrelaço dois autores – um prosador e um filósofo – ao mesmo tempo tão distintos e com formas de expressão tão próximas, que são Raul Brandão e Walter Benjamin, para problematizar o tema da (re)configuração do romance no alvorecer do século XX, empreitada na qual o escritor nortenho foi, sem dúvida alguma, precursor e mola propulsora. O ensaio conjuga, em uníssono, o meu fascínio pela literatura portuguesa e o profundo interesse pela teoria literária, e a estudantes e estudiosos de ambas as áreas julgo que venha a ser útil.