Abel Salazar não foi apenas o estudioso das células que introduziu um novo método para as corar - o método tanoférrico - e descobriu um importante componente das mesmas: o Para-Golgi. Foi também um entusiasta filósofo neopositivista, ardente seguidor da Escola de Viena, com uma vasta bibliografia publicada que deu origem a polémicas famosas com António Sérgio e outros. Finalmente, criou extensa obra artística em pintura, escultura e cobre martelado, com especial significado na expressão existencial da mulher trabalhadora. Ainda que dirigidas a outro notável microscopista, Celestino da Costa, estas cartas possuem um interesse que não é meramente científico. Elas revelam toda a dolorosa vivência quotidiana dum pensador e artista encerrado num meio difícil e numa época ingrata. São um depoimento autobiográfico único que nos ajuda, também, a compreender porque foi perseguido politicamente: não por ser político, mas por desenvolver uma intensa irradiação intelectual sobre o meio académico e a sociedade portuguesa do seu tempo.