Outono de 68 é um passeio no tempo. Um retorno a um passado recente e, ao mesmo tempo, distante, melancólico e trepidante, luminoso e sombrio, absurdo e carregado de sentidos. Marco Vieira leva o leitor a visitar uma época de sonhos e utopias, um tempo de apostas e perdas, de violências, esperanças e desespero. Dá para sentir a atmosfera dos anos 1960. É como se o vento daqueles dias viesse roçar nossa pele, mexer em nossos cabelos, bulir com nossa memória. Crônica de um salto no escuro, o relato recupera a história individual na História coletiva, nacional, trágica. Aos poucos, um universo vem à tona. Tem cheiro, ritmos, frases, um estilo. Sim, Outono de 68 aborda um estilo de vida justamente num momento em que a vida sofre um baque e todos os estilos caem na clandestinidade. O ano de 1968 parece falar por si: juventude, musicalidade, desejo de mudanças, manifestações nas ruas e, no Brasil, um final de ano fúnebre com o AI-5. Os personagens de Marco Vieira evoluem nesse tempo transformado em universo. Parece, inicialmente, um espaço ingênuo de cidade do interior. O que se vê, em seguida, é a densidade das vidas acossadas, dos saltos no abismo, das janelas fechadas e de destinos marcados para sempre. No Brasil da ditadura, pais e filhos descobrem-se e encobrem suas diferenças. Dá para sentir os passos dos protagonistas nas ruas de Porto Alegre. Há um olhar de viés. Em tom de novela, a história revela, desnuda, surpreende e traduz o passado como presente perpétuo.