É preciso afiar infância para pegar palavra na unha. Criada com fissura pelo mato, estudo em bicho e queda para joelho esfolado, Gabriella Ardore sabe escrever descalça, arranhar as costas das frases e deixar o leitor amolecido, com as mãos por trás da nuca, em suspenso até o final de cada linha, mais rendido que desejo puxado para dentro. É o que ela mostra aqui neste seu irresistível Glossário de leveduras. Entretanto, não se engane com o título. Mais do que convites, os textos da Gabriella são intimações cheias de partituras insinuadas, danações de asa extraviada, prolapsos reverberados, intenções de calda morena, poros empinados, crocrâncias aguçadas.