Lina Bo Bardi utilizou o termo substâncias, em vez de materiais, para explicar de que estaria feita sua arquitetura; composta pelo essencial, por aquilo que alimenta, dá fundamento e resistência à vida. Compreende-se assim a importância de determinados elementos vegetais, minerais, aéreos ou aquosos em seus edifícios e das expressões utilizadas por ela para nomear alguns deles: rio São Francisco, cachoeira da Mata Grande onde mora o Pai-Xangó, cidadela, terreiro, jardim de ervas aromáticas e cheirosas, termos simbólicos referidos a lugares existentes e às tradições populares. Suas arquiteturas vêm tratadas como lugares "sagrados", enquanto curativos mágicos e, sobretudo, enquanto lugares lúdicos e coletivos onde a noção de tempo linear deixa de existir, onde o prazer e o desejo afloram livremente. Por elas multiplicam uma combinação infinita de peças: rios, gárgulas, cachoeiras, árvores, carrosséis, escadas Tal repetição de um mesmo elemento em obras, épocas e lugares distintos faz com que toda noção cronológica de tempo seja apartada de sua obra, tornando-se essa um crisol, onde as coisas se misturam e se superpõem. É a busca do contato com as coisas rotineiras e banais - práticas e expressões populares, que vão da culinária ao artesanato, da música às artes plásticas, do futebol à dança, curas, cantos e contos populares -, expressões essenciais de uma espontaneidade perdida, sem medo ao efêmero e ao casual. Lina pertence a uma geração que sobreviveu à 2ª Guerra para a qual importava liberar a imaginação e trabalhar com o que se tinha nas mãos. Sua obra regenera o "lixo", aquilo que foi dado por impuro, inútil ou perdido, fragmentos de vida dos quais surge uma potente e atualíssima crítica a uma sociedade deteriorada pelo frenesi do consumo.