Durante muito tempo a crônica se apresentou como o gênero literário brasileiro por excelência capaz de captar "nossa mais genuína maneira de ser". Orientada para os detalhes prosaicos do dia-a-dia, realmente colaborou para a criação de certos "ares de brasilidade", construindo um espelho onde os cidadãos leitores pudessem reconhecer uns aos outros como a si mesmos. Mas "apesar de nós mesmos", senão o Brasil, o mundo mudou. E não parece ter mudado de acordo com as nossas melhores expectativas. Vimos muros caírem envergonhados e tornarem a ser erguidos com razões, vimos criminosos tornarem-se pessoas importantes e pessoas importantes transformando-se em criminosos... A degradação das antigas referências parece requerer um outro tipo de posicionamento da crônica jornalística... Nestes 100 textos de Fernando Bonassi publicados no jornal Folha de S. Paulo entre 2002 e 2006, observa-se uma vibração diferente. Sem abandonar as diversas vozes de seu projeto literário (já que a crônica também é uma forma que precisa ser cultivada e diversificada), o autor propõe, texto a texto, um novo olhar para nós mesmos. Um olhar menos inocente... E não menos condescendente... Talvez a imagem geral não seja agradável como desejávamos, mas quer queiramos, quer não, tem muito do que fizemos de nós nesses últimos tempos.