A Mooca é a Mooca. Dita por um mooquense (nato, como Richard Mascara, ou "convertido", como eu, que nasci em Guaratinguetá, mas ainda infante me mudei para o bairro), a frase pode parecer suspeita. Mas que se danem as suspeitas: a Mooca é a Mooca, é a República Federativa da Mooca, "país" que tem dialeto próprio, gente que vive no bairro há décadas (e que não o troca por nenhum outro), história marcante (aqui aconteceram os primeiros movimentos operários da cidade), a Rua Javari, o Juventus, a Paes de Barros, a pizzaria São Pedro, o M.M.D.C., a caixa d’água, a igreja de São Rafael etc., etc., etc. A Mooca é a Mooca. Assim começa "Mooca", a mais bela crônica deste belo e singelo livro de crônicas de Richard Mascara, companheiro de quase quarenta anos, iniciados, é claro, na Mooca, no velho M.M.D.C., onde fizemos sete dos onze anos que compuseram o ciclo primário e o secundário de nossa formação escolar. Vivi muito do que está nas páginas deste livro. Richard e eu jogamos bola e botão, conversamos horas a fio sobre música, literatura, política e - sobretudo - futebol, a maior de nossas paixões. Não é por acaso que o futebol é protagonista de muitos dos textos desta obra. Nos três anos em que cursamos o segundo grau, juntaram-se a nós amigos com os quais partilhamos memoráveis conversas sobre o nosso Brasil, nossa cultura, nossas idéias (que não eram poucas, nem vazias). Em plena (triste e sombria) ditadura militar, pintamos e bordamos no querido M.: participamos de festivais de música, fizemos teatro, organizamos murais, debates e conversas sobre temas "proibidos". Que saudade daqueles tempos! Que saudade daquela Mooca! Os mooquenses hão de ver-se neste livro, espelho de todos nós. E os "estrangeiros" poderão entender por que nosso bairrismo é incurável. Sabe lá o que é assistir a um jogo do Juventus e depois caminhar alguns passos para comer (em pé, no balcão) alguns pedaços da inigualável pizza da São Pedro? Só quem é da Mooca sabe o gosto que isso tem! E viva a Mooca, bello!