Muito do que hoje se vende, então, como "teoria decolonial" no mercado acadêmico não é outra coisa senão a projeção de um conjunto de intelectuais brancos que, a maneira dos "novos antropólogos", pretendem falar com excelência das comunidades indígenas, negras e campesinas da América Latina. Como se "descolonizar o pensamento" explicasse na exotização de tudo aquilo que a modernidade não conseguiu incorporar na sua lógica e que agora deve ser resgatado diante do imperativo moral de "salvar o planeta". Tal o é, que o leitor brasileiro que tenha em mãos este livro, deve entender que aquilo que encontrará aqui não diz respeito ao que atualmente se apresenta como "pensamento decolonial", mas, de fato, um momento anterior a este trágico desenvolvimento. O livro conserva, neste sentido, um valor como exercício arqueológico, entretanto não deve ser confundido com a prédica moralizante contra todo o moderno defendido por almas belas e bem-pensantes, não raro carentes de horizonte político.