Considerada um verdadeiro fenômeno pela repercussão que alcançou no meio acadêmico ocidental, a obra do indiano radicado nos Estados Unidos Homi Bhabha, embora ampla, ainda é relativamente pouco conhecida e traduzida no Brasil. A Rocco dá um importante passo para mudar esta realidade com o lançamento de O bazar global e o clube dos cavalheiros ingleses, que reúne sete ensaios que fornecem um retrato bastante representativo da obra de Homi Bhabha, tanto pela diversidade de assuntos abordados, quanto pelo seu cunho interdisciplinar, que o leva a transitar por obras de escritores como Toni Morrison, Sylvia Plath, Leonardo da Vinci, Hannah Arendt, Susan Sontag e T. S. Eliot, entre outros. Considerado uma das maiores expressões da chamada teoria pós-colonial, ao lado de Edward Said, Stuart Hall e Gayatri Spivak, e bebendo em fontes tão diversas quanto as obras de Jacques Derrida, Lacan, Foucault e Rushdie, Homi Bhabha se voltou para a desestabilização da perspectiva binária e hierarquizada sobre a qual se construíra a retórica colonialista. Para ele, toda identidade cultural é fundamentalmente híbrida e não excludente. Nesta mistura, o conflito entre cultura dominante e dominada se daria justamente nesse conglomerado de diferenças, ou seja, as relações coloniais não envolvem apenas a imposição de uma cultura sobre outras, mas a luta num espaço em constante mudança que dá margem a todo tipo de dominação e, ao mesmo tempo, gera a possibilidade de deslocamentos e subversões. O primeiro texto de O bazar global e o clube dos cavalheiros ingleses, "Ebonics: o inglês da rainha", aborda a relação entre identidade e linguagem, com todas as suas implicações em um universo de deslocamento de grupos que é cada vez mais comum. No segundo ensaio, "A arte da vítima: dance conforme esse disco", o autor discute arte e valores. Já o texto seguinte, "O entrelugar das culturas", volta-se para a discussão sobre as diferenças culturais. No ensaio "Aura e ágora: sobre a negociação do gozo e o falar entre", Bhabha trata, basicamente, da tensão desses dois elementos no plano da arte: a "aura" associada ao sublime, e a "ágora", lugar de inscrição temporal dos sujeitos no prosaico mundo cotidiano. O texto seguinte, "Pós-modernismo/Pós-colonialismo", volta-se para a relação problemática entre os dois conceitos, dando especial atenção ao estatuto do sujeito, à representação, à história e à arte. "O bazar global e o clube dos cavalheiros ingleses" - que dá título à coletânea - parte das imagens de um bazar oriental e de um clube privado de cavalheiros ingleses para abordar questões como a globalização e a noção de comunidade e da cultura e sua temporalidade. Por fim, "Olhando para trás, indo para frente: observações sobre o cosmopolitismo vernacular" busca equacionar duas questões centrais na obra de Bhabha, política cultural e política social, mostrando que a teoria não pode estar dissociada da experiência cotidiana de cada indivíduo. Os ensaios de Homi Bhabha convidam o leitor interessado em questões políticas, culturais e filosóficas do nosso tempo a compartilhar de um discurso energizado pelo impulso da militância teórica e pela afirmação da responsabilidade do intelectual diante das relações de dominação que tecem os dramas humanos e a história das lutas pela liberdade e identidade que se seguiram no período pós-colonial. Tudo isso apoiado numa análise lúcida e inovadora das artes e da literatura.