Se Dom Quixote é um livro sobre os livros, seu prólogo é um paratexto contra o paratexto. Acatando aparentemente a retórica que rege o prefácio, o autor na verdade a rejeita, não aceita os lugares-comuns que ela elenca, recusa-se a " ir com a corrente do uso". O que Cervantes contesta não é a função desses elementos limiares, mas sua constituição como lugar do poder, em que se produzem as instâncias de legitimação do livro e do autor. Questões ligadas às novas maneiras de fabricação e comércio do livro se incluem na folha de rosto, como o livro dentro do livro, como a oficina de impressão dentro da oficina de impressão ficcional de Cervantes, a própria representação, no livro, do mundo do livro.