A elegância, entre os escombros da tragédia. As guerras parecem nos induzir a pensar, como no caso da 1ª Grande Guerra (1914-1918) abordada neste livro, que se trata de uma sucessão de ações homogêneas, repetitivas, sem paradoxos e muito menos sutilezas. A cobertura nada inocente da mídia, quase que invariavelmente superficial quando não enviesada, muito contribui para isso. Nada mais falso, porém. A ação humana, particularmente quando coletiva, rejeita simplificações. No entanto, descobrir nesse emaranhado aparentemente uniforme, aspectos paradoxais, onde se incrusta e se afirma o patético, é tarefa que exige primeiro, sensibilidade, olhar arguto e sem preconceito. E, segundo, ousadia e destemor, pois requer análise percuciente e rigor metodológico apurado. Este livro condensa as duas coisas. Reflete, também, a personalidade do historiador Delmo Arguelhes, onde a maturidade investigativa convive com a sensibilidade cotidiana para o humor e a ludicidade. Afinal, quem senão ele iria descobrir que, no meio da tragédia daquela guerra de densidade e dimensões horripilantes, ocorreram gestos de inequívoco cavalheirismo e incontrastável elegância? E, ainda por cima, fazer tudo isso sem - em uma atmosfera de desespero e sofrimento infinitos - resvalar para o achincalhe grotesco e desrespeitoso? Pois ele o fez aqui, neste livro, como uma homenagem à inteligência de todos nós.