Este trabalho pressupõe a discussão actual sobre o destino do livro e nela intervém de modo oblíquo ao tratar a relação do romance enquanto género literário moderno com a noção de livro - a noção que herdou e a que se reconfigurou por efeito da invenção da tipografia. Pelo caminho, defronta vários problemas: a dificuldade de uma noção estável de livro, a relação entre o suporte material e a função de veículo, o predomínio do livro tipográfico, o lugar do manuscrito, as noções e as práticas de leitura, o romance epistolar enquanto paradigma da relação com o livro, o manuscrito encontrado, a posição e a responsabilidade do romancista, a assinatura do romancista e a figura do autor ficcional. E empreende diversas leituras: Cervantes, Laclos, Rousseau, Flaubert, Melville, Borges e, no ponto de partida como no ponto de chegada, Machado de Assis, cuja obra, em particular o romance Dom Casmurro, é aqui entendida como ficção que radicalmente solicita o livro e como ficção onde mais radicalmente se pode solicitar a questão do livro, do destino do livro e da relação do romance com o livro.