As Res Gestae de Amiano Marcelino são uma verdadeira epopeia da Res Publica, para usarmos a expressão do célebre historiador Santo Mazzarino. Escrita com uma sobriedade sem igual e num estilo literário que não encontra paralelo no período em que foi composta, esse monumento literário da Antiguidade Tardia narra os acontecimentos importantes que marcaram o Império Romano do período de Nerva até a morte de Valente, embora apenas tenham sobrevivido os livros de Constâncio II em diante. O livro 31 é o fechamento dessa obra monumental, ele narra todos os eventos funestos que culminaram na batalha de Adrianópolis, um desastre militar que levou à morte o próprio imperador, boa parte de seu Estado-maior, e selou o destino do Império Romano no decorrer do século seguinte. As crônicas menores ao final nos dão uma boa ideia do mundo que havia surgido dessas transformações. O primeiro texto trata da ascensão ao triunfo final de Constantino e nos mostra o nascimento de um novo império, sob uma nova ordem secular e espiritual. O segundo trata dos eventos que se passam um século depois de Adrianópolis, a chegada de Odoacro na Itália e a deposição do último imperador romano, bem como da chegada de Teoderico e o estabelecimento do Reino Ostrogótico. A leitura desses documentos em conjunto é indispensável àquele que deseja mergulhar num mundo em constantes e intensas transformações que está na gênese do que compreendemos como Civilização Ocidental.