Em A Última Viagem de Borges, Ignácio de Loyola Brandão passeia pelo insólito, propõe enigmas, mas sobretudo desafia a argúcia e a imaginação do leitor. Tendo como personagem central um mistificador de gênio (como o chamou Otto Maria Carpeaux), o escritor argentino Jorge Luis Borges, a peça se desenrola num clima de fantasia delirante, bem ao estilo borgiano, temperado pelo humor e a ironia típicas do autor paulista.Aos 87 anos, cego, sentindo a presença cada vez mais próxima da indesejada das gentes, Borges inventa (ou descobre?) a palavra-síntese, a mais perfeita de todas, resumo de todas as palavras, construída "com sílabas articuladas cheias de ternuras e tremores". Sem escrevê-la ou comunicar a outra pessoa, o velho escritor acaba por esquecê-la.Para recuperar a palavra mágica, Borges organiza uma expedição à Biblioteca de Babel, em companhia de Sherazade, a narradora perfeita, que salvou a própria vida pelo uso da palavra, Sir Richard Burton, o aventureiro inglês do século XIX, primeiro ocidental a entrar em Meca, e Funes, o Memorioso, personagem de ficção criado por Borges. A Biblioteca, no entanto, se opõe com toda a astúcia ao desejo do escritor e seus amigos. Quer preservar para si a palavra perfeita. Dúvidas, desafios, obstáculos, peripécias, incursões pelo mundo dos espelhos, o universo dos labirintos, a terra dos seres imaginários, despertando novas dúvidas. Somos reais ou meras imagens?Afinal, o grupo encontra o Bibliotecário Imperfeito, espécie de duplo borgiano, zelador da inacessível Biblioteca, reino de todas as palavras, onde "estão as coisas criadas e as não criadas", acesso a uma viagem infinita. A Última Viagem de Borges termina com quatro finais possíveis, que poderiam ser infinitos, pois a busca da palavra é a mais árdua de todas as buscas: a de si mesmo.