A poesia é o lugar das insistentes. Não há outro lugar que se faça lar daquelas cuja única saída é escrever; pulsar o verbo feito fluxo sanguíneo, as oscilações do tempo, espaço, hormônios, projetos que vetam nosso direito à insistência. E tanto sabemos desta que aqui estamos, há uma eternidade arrastando o mundo com nossos dentes afiados e ventres murchos de cadelas abandonadas que têm de implorar por comida revirada do lixo. Nada nos é concedido nunca foi. Tudo há de ser retomado e reconstruído. A Cadela de Layla de Guadalupe dissipa as definições do dicionário (1. A fêmea do cão; 2. Mulher vulgar, de má índole, sem compostura; 3. Prostituta), essa instituição linguística para quem o feminino é apenas mera variação do masculino. Aqui, não: Cadela é sujeita, verbo e objeto de si mesma, se olha no espelho medindo de cabo a rabo o tamanho de sua insistência. Merece seu próprio verbete, rasga o antigo e o reescreve. Não há mãezinhas nem putas, devotas nem arrependidas apenas (...)