O sorriso de marfim começa com a típica cena dos romances noir americanos: no escritório do detetive particular Lew Archer, em Los Angeles, irrompe uma misteriosa mulher de rosto severo, vestindo uma estola de pele e tantos diamantes quanto consegue carregar. Recusando-se a entrar em detalhes, pede que Archer descubra o paradeiro da ex-empregada, que teria roubado jóias suas. De cara ele percebe que há mentira no ar, mas a penúria em que se encontra e a sua curiosidade inata prevalecem. Em breve ele tropeçará numa série de cadáveres, prostitutas estonteantes, perigosos marginais e ricos inescrupulosos. Não é à toa que Ross Macdonald (1915-1983) é considerado o herdeiro literário dos mestres Dashiell Hammett e Raymond Chandler - e O sorriso de marfim, o quarto dos quase vinte títulos protagonizados por Lew Archer, é prova disso. Publicado em 1952, o romance prende a atenção do leitor graças aos seus personagens profundamente humanos e à muito bem costurada intriga, que se desenrola em um mundo sem heróis, de ganância e de descaso moral, em que ninguém está do lado da justiça