A idéia da elaboração deste livro partiu da nossa observação em relação à evolução da sociedade e das relações de trabalho ocorridas principalmente nas duas últimas décadas. As novas conquistas ocorridas dentro do campo da saúde ocupacional repercutindo nas legislações trabalhista e previdenciária em relação às perdas auditivas ocupacionais abriram um enorme campo de atuação para o fonoaudiólogo.Além dos fatores acima mencionados, a globalização da economia e a necessidade das empresas em adquirirem certificações de qualidade levaram as empresas a elaborarem projetos de melhorias ambientais e de qualidade de vida para seus trabalhadores.Em meio a este panorama, a necessidade de consultoria na área de audiologia ocupacional tem crescido vertiginosamente. Entretanto, há que se compreender que as necessidades do mercado e a realidade dentro do universo da saúde do trabalhador mudaram. As empresas e os serviços de saúde ocupacional não necessitam mais de fonoaudiólogos - audiometristas. Para trabalharmos nessa área com competência, é necessário que tenhamos a visão da implantação de programas continuados de saúde auditiva dentro dos ambientes de trabalho. Para isso, temos que nos armar de conhecimentos e competência para sermos consultores. O mercado mudou e busca profissionais capazes de avaliar situações, orientar, criar programas e, quando necessário, redirecionar o foco da empresa para prevenir os efeitos nocivos do ambiente sobre a saúde auditiva de seus trabalhadores.Esse livro tem o objetivo de discutir as possibilidades de atuação do fonoaudiólogo sobre essa nova ótica da saúde do trabalhador. Talvez, o maior desafio seja esse: adequar a nossa formação até hoje fortemente voltada para a clínica, a uma realidade que envolve conhecimentos muito mais abrangentes. Somos profissionais de saúde, somos também trabalhadores e temos um papel a cumprir neste processo. Como fonoaudiólogo, médico, enfermeiro, dentre outros, nosso trabalho consiste em contribuir para a elevação dos níveis de saúde dos homens. Mas a saúde está profundamente imbricada com a forma pela qual nos relacionamoscom a natureza e organizamos a vida social e laborativa. Nem mesmo entre quatro paredes do consultório é possível desconsiderar isso. Ser profissional de saúde significa, em última instância participar da avaliação, transformação e construção da sociedade de maneira a tratar ético-politicamente o meio ambiente, as relações sociais e a subjetividade humana. Alice Penna de Azevedo Bernardi.