Este livro nasceu de uma série de questões postas com freqüência aqui e ali, mas jamais seriamente abordadas. Entre elas, destacam-se pelo menos três: Por que, quando se fala de sexualidade e, notadamente, de prevenção da aids, usam-se os termos mais arcaicos? O que significam a perplexidade recente em face da aids e o romantismo quase mórbido do qual sofrem aqueles que são suas vítimas? Por que, enfim, quando a Igreja se exprime sobre esses mesmos temas, seus propósitos são falsificados? A psicologia e a moral têm, cada uma, um discurso sobre o sexo. Eis por que, situando-nos na encruzilhada destas realidades, gostaríamos de dar conta, do ponto de vista da psicanálise e da psiquiatria social, da formação do discurso social sobre o sexo, para extrair todas as suas implicações estruturais e suas repercussões na formação (ou ausência de formação) do vínculo sexual. Em nossas sociedades, temos o hábito de substituir a reflexão moral - que assegura a necessária das condutas humanas - pela explicação psicológica ou sociológica, por meio da qual cada um se analisa apenas à luz de suas vivências subjetivas. Desenvolve-se assim, aos poucos, uma sexualidade sem riscos, pela qual tudo pode ser feito contanto que a pessoa se proteja. Ora, se a análise pessoal é indispensável, ela deve em seguida voltar-se para outras dimensões (política, moral, religiosa, etc.). A igreja apresenta outro discurso, apoiando-se numa concepção relacional da sexualidade. É a concepção que se faz de sexualidade que permite a uma sociedade viver ou morrer. Não se trata aqui de simplesmente repetir a moral do permitido ou do proibido, porque estamos diante de um problema de ordem antropológica e psicológica. O que está em jogo? Todas as interrogações do indivíduo contemporâneo em crise com a própria interioridade