A Palavra Perplexa consiste em um estudo sobre a experiência histórica e cultural no Brasil contemporâneo, tendo como fonte de pesquisa a assim chamada "poesia marginal" produzida no país na década de 1970 e os debates realizados pela crítica literária correlata. Em busca dos traços de uma sensibilidade de época, mergulha dentro da dicção poética para dali extrair indícios acerca da experiência e do modo como a história foi vista e sentida. As reflexões teóricas se fazem em torno de questões problemáticas da relação entre poesia e história na modernidade, bem como do significado de experiência histórica.Cruzando as características contextuais com a interpretação de poemas, o estudo discute o ano de 1968 como um marco especial na cultura brasileira e analisa as principais vozes poéticas do período: a voz interrompida e subterrânea dos poetas pós-tropicalistas, em meio a uma efervescência cultural cortada de forma traumática e a novas questões colocadas aos sujeitos e à linguagem a partir do endurecimento da ditadura: as vozes sufocadas da poesia marcada pela produção e distribuição alternativa de libretos, numa resistência problemática contra a indústria cultural e o regime político, encontrando na metáfora da asfixia uma das principais imagens para designar o sofrimento vivido por diversos setores sociais, em diálogo com a crise do nacional-desenvolvimentismo e da modernidade no Brasil: as vozes presas dos que foram calados, encarcerados e torturados, cuja poesia testemunha sob o terrorismo de Estado e a dialética da memória e do esquecimento em situações derivadas de traumas históricos. Em linhas gerais as imagens poéticas apontam a condição intervalar desta lírica, a incomensurabilidade do processo de mudança na experiência histórica ao longo da década e a perplexidade dele decorrente, deixando rastros na cultura brasileira.