O ano de 1914 marca o fim do outramento, como dispersão, e inicia o outramento, como heteronímia. Esta transformação introduziu uma "linha metódica e lógica" na produção pessoana: "metódica", porque pôs fim à dispersão horizontal; "lógica", porque, graças ao sensacionismo, deu unidade e um fio ao outramento: a sensação e a sua história - desde o sentir pagão e clássico [Caeiro e Reis] até ao sentir moderno e perturbado [Campos]. Pessoa escreveu: "a eschola litteraria que queira representar a nossa época, tem de ser aquela que procure realisar o ideal de todos os tempos, de ser a syntese viva das epochas passadas todas". Ora, essa escola literária é o sensacionismo e cada um dos heterónimos o poeta "supremo no seu género". Osensacionismo, em oposição ao saudosismo nacional e nacionalista pascoaesiano, é a antologia e a Weltanschauung estéticas. ANTÓNIO MANUEL CALDEIRA AZEVEDO nasceu em 1947. Licenciado em Filosofia, pela Universidade do Porto, obteve, na Universidade do Minho, o grau de Mestre em Filosofia em Portugal e Cultura Portuguesa. É autor das seguintes obras: Do Significado Religioso de Panoias, Tartaruga, Chaves, 1998; Guerra Junqueiro: Modernidade e Palinódia, Porto, Lello Editores, 2001; Pascoaes e Caeiro: Dois Olhares sobre a Natureza, Braga, Diacrítica, 2001; Villa Real Motivos, Lisboa, Edições Tema, 2004; Pessoa e Nietzsche, Lisboa, Instituto Piaget, 2005.