Como a mídia pode influir no destino dos indivíduos, substituindo a ideologia na construção dos sujeitos no mundo atual? A partir de um estudo sobre a constituição da personagem de Marcinho VP - Marcio Amaro de Oliveira, criminoso carioca morto em julho de 2003, na penitenciária Bangu III -, o professor João Camillo Penna analisa o papel da mídia no assassinato do chefe do tráfico de drogas de uma favela do Rio de Janeiro, dois meses após a publicação de sua biografia, o romance-reportagem Abusado: o dono do morro Dona Marta, de Caco Barcellos. O fato foi o último de uma série de interpelações midiáticas, políticas e estéticas sofridas pelo traficante ao longo de sua vida. Para o docente, a morte suscita questões profundas sobre ética jornalística, sobre os perigos reais da criminalização/estetização de imagens da marginalidade, e as condições de (im)possibilidade de constituição de novos sujeitos no cenário cultural brasileiro contemporâneo. Penna aponta, além do livro de Barcellos, outros três fatos que tiraram VP do anonimato relativo de um pequeno marginal e o alçaram à visibilidade de um "marginal midiático": a contratação de seus serviços e de seus comandados como "seguranças" para a equipe de filmagem do videoclipe de Michael Jackson, ambientado na favela Dona Marta, em fevereiro de 1996; a entrevista dada por ele na madrugada do dia das filmagens a três jornalistas dos três maiores jornais cariocas (O Globo, Jornal do Brasil e O Dia), sob condição de anonimato, mas publicada no dia seguinte com a revelação de sua identidade, à sua revelia; e seu envolvimento com o documentarista João Moreira Salles por ocasião das filmagens de Notícias de uma guerra particular, iniciando-se aí uma amizade que culminaria na oferta pelo cineasta de uma mesada para VP escrever um livro sobre sua vida.