Alice Ruiz é uma das coisas raras do planeta. Seu verso delicado e inteligente. Sensível e surpreendente. Tudo de maneira sutil, sem ostentação formal. Dizer que isso é haicai não explica tudo. Dizer que isso é o zen, muito menos. Dizer que o haicai ensina a dizer pouco com pouco. Dizer que evita o discurso sobre o objeto e fala das coisas como elas mesmas falariam se pudessem. Dizer, dizer, dizer. Nada se compara a ler Alice Ruiz. Sua poesia é muito mais do que haicai. Ou é como o haicai sonhou em ser. Tanto que agrada os criadores do gênero, os japoneses. O título de Yuca, que recebeu recentemente e que dá título ao livro, foi dado pelos nisseis, um reconhecimento a sua maestria no gênero. Mas seus haicais encantam também quem nada sabe de haicai. Encantam leitores cultos e desinformados. Isso é dela. Ninguém lhe deu de presente. Não foi o zen, não foi o haicai, e, ao mesmo tempo foi tudo isso. Mas esse tudo é filtrado pelos seus olhos, lido por sua ótica pessoal e intransferível. Não é só conhecimento. É sabedoria. Sabedoria de vida e de arte. Sabedoria de linguagem. Alice vem trazendo seu verso já há um bom tempo. Lançou belíssimos e premiados livros, como Navalha na liga, Pelos pêlos, Vice-versos, Desorientais. Fez letras de músicas geniais, como Socorro, em parceria com o Arnaldo Antunes. Ter um livro novo e inédito da Alice Ruiz é um presente que todos nós, seus contemporâneos, temos a sorte e a alegria de receber.