'A Perspectiva do Quase' busca a afirmação de um lírico e de um lúdico que se encontram negados em uma concepção de sociedade que pressiona o indivíduo para a utilização total de seu tempo em tarefas produtivas e programadas objetivamente. Neste modelo, até o ócio, o riso, a dança estão sob controle do mercado, e a linguagem do espetáculo se impõe, hegemônica e (aparentemente) inconteste. A poesia, no entanto, se situa à margem - não está incorporada, ou seja, não consegue tomar parte no corpo desta 'realidade'. O que parece nocivo traz no bojo uma solução, ou pelo menos uma possibilidade de rota; descomprometida perante aquilo que não a absorve, à poesia resta estabelecer-se como oposição à linguagem dominante.