O escritor Pascal Quignard consegue o que parece impossível: aliar erudição à simplicidade. Sua obra é marcada pela busca da palavra exata, do ritmo musical das frases. Tudo é pensado, nada é casual e o foco está em pequenos detalhes, minúcias, filigranas que se transformam na essência da criação. Ao mesmo tempo e paradoxalmente, o texto sai limpo, fluido, refinado e livre de prolixidade. Assim é “Ódio à música.” Desta vez, um dos mais requintados autores franceses da atualidade fala da música através de oito tratados. Mas não só sobre a música propriamente dita: Quignard cria sentidos para sons, gemidos e grunhidos. Filosofa sobre musicalidade da vida e da morte e passeia pela história da humanidade pelo viés do som, revisitando gêneros e instrumentos musicais antigos. Para o escritor Marcel Proust, esta é a função da literatura: provocar perguntas bem mais do que fornecer respostas. Com maestria, Quignard mostra mais uma vez que a música existe para substituir o que as palavras não podem dizer. E, mesmo involuntariamente, cria uma escrita musical. Compõe com palavras.