A língua que passa por esta orelha, acaricia, preenche, alaga. É onda que se embrenha pelo labirinto do ouvido, bate, afeta, bigorna, estribo e martelo. Convoca uma leitura cocriadora, invoca máquinas desejantes. Desobrar-se é um convite ao desmoronamento de si; e na língua de Maria Eduarda, desobra não se substantiva, é sempre ação: desobrar-se. Sustentar-se mesmo que na queda, fazer-se asa no precipício. Os versos que você encontra neste livro des-obram institucionalidades violentas: corpos compulsoriamente medicados vertidos em hospícios privados corpos trans aniquilados na média dos 35 anos. A minoridade na qual se lança quem não se adequa às performances hegemônicas. Para quem o recalque e a fetichização não são recursos suficientes e, por isso tem o desejo interdito, psicopatologizado. Este livro é uma clareira aberta, fogo aceso, copos cheios, faz-se música: convida. A língua aqui é manejada como território de encontro possível. De uma alegria selvagem, porque (...)