No século XVI, um flagelo espalha-se pela Europa causando mortes e mutilações. Conhecida então como O Mal Francês, essa doença aparentemente incurável assustou enfermos e sadios durante cerca de três décadas, até que Girólamo Fracastoro, famoso médico e poeta, foi convocado para desvendar os seus mistérios. Memórias de um Cirurgião-Barbeiro, romance do médico-escritor Heitor Rosa, parte de uma minuciosa pesquisa histórica para resultar numa leitura prazerosa ambientada numa época em que realizar cirurgias, fazer barbas e cortar cabelos eram atividades bem semelhantes. O narrador é Gioacchino dalla Rosa, o cirurgião-barbeiro do título, que, entre outras coisas, revela o porquê de Fracastoro ter batizado de sífilis aquela terrível doença. Memórias de um Cirurgião-Barbeiro, narrado com muita leveza e humor, é um romance histórico nos moldes das melhores obras de Umberto Eco. Ao retratar a medicina há mais de 500 anos, numa sociedade onde crendice, religião e política se misturavam (principalmente durante a epidemia de uma doença sexualmente transmissível), Rosa mostra que, em certos aspectos, nosso mundo não mudou tanto assim. Como afirma Moacyr Scliar, outro grande médico-escritor, "não se trata de um trabalho científico, acadêmico; o que temos aqui é um romance que prende o leitor da primeira à última linha". E, assim, Heitor Rosa prova, com todas as letras, que a literatura pode, sim, ser uma cura para todos os males.