Se dúvida ainda houvesse sobre merecer Gonçalves de Magalhães o título de fundador da dramaturgia brasileira, este livro de André Luís Gomes, Marcas de Nascença, as tiraria definitivamente. (...) Gonçalves de Magalhães queria para sua peça um tema "nacional": achou-o na desdita de Antonio José, o brasileiro obrigado a ir para Portugal pela Inquisição e lá sacrificado por ela. Acresça-se a esta condição do personagem o fato de para o pensamento romântico ser o lugar do nascimento uma marca indelével deixada no caráter do personagem e do ser humano. (...) Magalhães conseguiu de fato inaugurar uma modalidade de peça, com o Antonio José, onde, ainda que de modo algo canhestro, ele conseguiu montar uma ação que dizia respeito a um tema do tempo, a liberdade, com um personagem que, como vimos, tinha seus dotes de brasilidade, e que se passava num cenário que era mais familiar ao público brasileiro do que qualquer outro, pois é forçoso reconhecer que o do próprio Brasil não fora ainda tratado em teatro de modo convincente. Este livro consegue ajudar, de modo coerente e analítico, a obra de Magalhães a cumprir o ditame de seu próprio autor, exarado em seu ensaio "Sobre a História da Literatura no Brasil": "a Literatura só escapa aos rigores do tempo para anunciar às gerações futuras qual fora o caráter do povo, do qual ela é o único representante na posteridade". É só trocar Literatura por Teatro que veremos aí o teatro de Magalhães cumprindo esse papel. Flávio Aguiar.