Há uma força única na literatura que emula o testemunho, o jogo de luz e sombra que só é possível nos diários (e na entrega louca dos diários). Atento a essa possibilidade estética, na angularidade de cenários públicos e privados, Ivan acerta na dicção do excesso, do habitar as bordas, por meio de voz narradora com a qual exercita uma lente sensorial ampliada capaz de empacotar a tragédia nunca totalmente percebida de um tempo, de um sonho, de um sentir coletivo, arrastado pelo que ainda é imediato. Só pode testemunhar quem sobrevive ao tempo (e à cegueira do presente). É risco, um risco que o autor assume de maneira corajosa. Aqui, um romance que enfrenta a máquina do esquecimento, por ser, muitas vezes, ela, a máquina, potente expressão do caos um caos que também acolhe o trânsito da literatura. Um notável livro sobre o errar e sobre o existir (e recalcitrar) nos afetos que, por serem o que nos move e nos desestabiliza, mesmo quando tempo e espaço se diluem na racionalidade (...)