A condição de estrangeiro corresponde ao trânsito de uma situação que nunca permanece a mesma. Proporciona uma visão desmobilizada que atravessa as fronteiras institucionais, nacionais ou de linguagem. Porém, no limiar do seu ser, entre a preservação e a mudança, o estrangeiro nem sempre deixa de estar subjugado ao sistema histórico, condicionado a um sistema ideológico. Frente a esse paradoxo, ele passa a habitar o porvir, o espaço da criação, da arte, da ficção que não tem forma ou nacionalidade preestabelecidas. Francisco Ayala, autor espanhol exilado nas Américas por trinta anos, vivencia sua condição de apátrida, que assinala o exílio como uma categoria fundadora da Modernidade, por meio de um deslocamento que sofre o conflito entre o que foi, é e virá-a-ser. O contexto periférico do seu desterro e a emergência da cultura de massas norte-americana o forçam a abandonar a racionalidade historicista, na linhagem de Ortega y Gasset, e voltar-se para a criação instantânea da ficção no conto.