Foi com enorme satisfação e orgulho que aceitei o convite dos editores para escrever este livro sobre a gagueira. Mas, acreditando que unir diferentes profissionais que compartilham posturas semelhantes diante do pensar sobre a gagueira e a pessoa que gagueja, pudesse constituir uma experiência mais enriquecedora para o leitor, optei por formar um grupo de pesquisadoras e estudiosas que deixassem aqui suas marcas e experiências enquanto mestres e terapeutas. Dessa forma, reuni especialistas do assunto para, juntas, produzirmos os vários capítulos que compõem este livro. Convidei, então, as fonoaudiólogas Anelise Junqueira Bohnen, Eliana Maria Nigro Rocha, Verena Maiorino Degiovani, e a psicóloga Lúcia Maria Gonzales Barbosa. Como eu, elas são mestras no tema e possuem vasta experiência acadêmica. São também muito experientes no atendimento clínico, com exceção da psicóloga Lúcia, de conhecimento teórico excepcional, que optou por dedicar-se por completo ao estudo e à pesquisa.Deste modo, deparei-me com a responsabilidade do papel de organizadora de um livro, papel que procurei desempenhar com todo meu vigor. Minhas características pessoais, por uma questão de coerência interior, não me permitiram atuar de modo diverso daquele no qual acredito. Assim, procurei realizar este trabalho, preservando a individualidade do pensamento de cada uma das autoras, mas efetuando trocas contínuas, que exigiram muito mais tempo de cada uma de nós. Espero que os resultados obtidos demonstrem o cuidado e o empenho com os quais esta tarefa foi realizada. Espero também que o crescimento que fui observando nos diversos textos tenha sido constatado por todas as colaboradoras deste livro. Embora cada capítulo deste livro seja de total responsabilidade de cada autora, buscou-se obter uma produção coerente entre todas. Dessa forma, o conteúdo e a estrutura do livro foram democraticamente discutidos. Objetivou-se produzir um trabalho, integrado, que demonstrasse unidade de concepção e tivesse coerência na metodologia, tanto na identificação como no tratamento da gagueira. Obviamente, tratando-se de tema tão complexo algumas vezes isso não foi possível. Posso afirmar que para nós, autoras, Atender Bem a Pessoa que Gagueja é, antes de tudo, dar a ela toda a nossa atenção, colocando-nos em total disponibilidade para escutá-la, sem idéias pré-concebidas, abrindo espaço para conhecer aquela pessoa, que é única. Bem atender é também deter os instrumentos e conhecimentos científicos sobre a gagueira, atualizando-os constantemente. Nessa atualização incluímos, além de conhecimentos teóricos, a auto-análise de nosso fazer fonoaudiológico, de nossa postura clínica e de nossa determinação de entender a pessoa, sua fala gaguejada e o que esta fala representa nas suas relações de comunicação. Não tivemos a intenção de esgotar assunto tão extenso e controverso, nem de fornecer sobre ele noções definitivas. É também importante frisar que respeitamos outras maneiras de pensar a etiologia da gagueira assim como outras maneiras de entender e de atuar com a pessoa que gagueja. Nosso objetivo é apontar possíveis paradigmas, mostrar o trabalho reflexivo, consciente, sempre apoiado em bases científicas, que temos feito com a pessoa que gagueja e sua família. Queremos mostrar que, apesar de a ciência não ter ainda desvendado por completo a etiologia da gagueira, o fazer fonoaudiológico nos mostra o quanto as pessoas que gaguejam podem melhorar com a intervenção terapêutica. O número de remissões é grande, especialmente quando o atendimento é feito precocemente e de modo adequado. Com ou sem remissão completa, porém, a terapia com pessoas que gaguejam é recompensadora, gratificante e traz uma profunda alegria. É grande a satisfação de ver as pessoas vivendo mais felizes, de bem com suas falas, mantendo relações de comunicação eficientes, de maneira agradável e sem sofrimento. Veja, a seguir, um pequeno resumo dos capítulos e conheça um pouco mais sobre as autoras e seu trabalho. Lúcia Maria Gonzales Barbosa, psicóloga, escreveu o Capítulo I, Noções Básicas sobre a Gagueira: suas Características, sua Etiologia, e as Teorias sobre sua Natureza. Lúcia, enveredou pelos caminhos da gagueira desde 1987, trazendo sua densa formação de psicóloga e suas qualidades de pesquisadora para o meio fonoaudiológico, no qual mergulha de modo profundo. É co-autora de livro e artigos sobre o tema, publicados tanto no território nacional como internacional. A autora faz aqui um vasto levantamento bibliográfico e oferece uma ampla revisão das teorias mais aceitas sobre as causas da gagueira desde a década de 20 até os dias de hoje. Evidencia as controvérsias existentes e mostra como as idéias sobre o distúrbio vêm mudando ao longo do tempo, acompanhando as evoluções da ciência. Verena Maiorino Degiovani, fonoaudióloga, autora do Capítulo II, Diagnóstico Diferencial das Disfluências, é a mais jovem de nós, mas seu desembaraço pessoal é de uma veterana na área, na qual vem investindo e produzindo resultados que nos estimulam a esperar sempre mais. Em seu capítulo, descreve as várias alterações da fluência -- gagueira, disfluência psicogênica, disfluência neurogênica, taquifemia e disfluência por retardo de linguagem e orienta a realização do diagnóstico diferencial das disfluências. Estes assuntos são muito controversos e ainda necessitam de muitas pesquisas científicas que ampliem nossa compreensão sobre cada um dos distúrbios da fluência e seus diagnósticos diferenciais. O capítulo fornece dados para que o fonoaudiólogo possa fazer um diagnóstico acertado, primeiro passo para um encaminhamento correto e para a escolha dos procedimentos terapêuticos mais adequados a cada caso. Anelise Junqueira Bohnen, fonoaudióloga, escreveu os Capítulos III e IV, depositando neles seus profundos conhecimentos teóricos e práticos de anos no trato com a gagueira. No Capítulo III, Avaliando Crianças com Gagueira, descreve com clareza e didática os vários paradigmas norteadores da avaliação qualitativa e quantitativa das disfluências em geral e da gagueira em particular. Deixa claro que, dependendo do paradigma adotado, a avaliação e, portanto, a terapia, tomam rumos diferentes. Revela qual paradigma adota e justifica sua escolha. Descreve sem reservas seus processos de avaliação, coerentes com seu método de atendimento clínico. O texto ajuda o profissional a se instrumentalizar para realizar uma avaliação de qualidade -- condição fundamental para um trabalho fonoterápico eficiente.No Capítulo IV, Fazendo Terapia para Crianças que Gaguejam e Orientando suas Famílias, é dividido em duas partes. Na primeira a autora descreve com detalhes sua abordagem clínica, sua metodologia, seu modo de atender crianças que gaguejam na clínica fonoaudiológica. Na segunda parte trata da orientação aos familiares, sempre se baseando em recentes pesquisas e na própria experiência. Os ensinamentos da autora são úteis mesmo nos casos em que o cliente não necessita de atendimento clínico, mas seus pais precisam de orientação e de informações confiáveis sobre disfluência ou gagueira. Eu, Ignês Maia Ribeiro, fonoaudióloga, escrevi o Capítulo V, O Adolescente e a Gagueira. Sendo minha a redação desta introdução, teria dificuldades em me apresentar, mas acredito que uma característica minha, que é freqüentemente ressaltada pelos demais, há de estar presente em todos os meus projetos, incluindo este, que é a busca contínua de unir a seriedade do estudo e do trabalho com a alegria de criar, inovar. A gagueira assim como o mundo adolescente tem sido para mim motivo de constante interesse e estudo desde 1980, quando iniciei minha atividade clínica. Neste capítulo, busco integrar os conhecimentos sobre a gagueira, o adolescente e o processo da adolescência. Procuro mostrar que a gagueira tem características bastante próprias, ligadas a essa importantíssima fase da vida. Em conseqüência, o processo terapêutico precisa ser muito especial, delicado, cuidadoso. Procuro ainda ressaltar que o fonoaudiólogo que se dedica a este tipo de atendimento necessita ampliar a sua área de conhecimento para abranger, além das características peculiares da gagueira, também os problemas típicos dos jovens que atravessam esse período. Eliana Maria Nigro Rocha, fonoaudióloga, é autora dos capítulos VI e VII. Coerentemente com seu modo de ser seus capítulos evidenciam experiência, praticidade e lucidez. Neles a autora assume um estilo de escrita que expressa um caráter que beira ao confessional demonstrando conhecimentos consistentes adquiridos ao longo de anos dedicados a pesquisa, ao estudo e atendimento das disfluências e da gagueira. No Capítulo VI, O Adulto que Gagueja, Eliana discorre de maneira clara e transparente sobre os princípios que norteiam seu fazer clínico associando a prática clínica com a fundamentação teórica adquirida em diversas áreas. É um relato aberto que mostra generosamente sua forma peculiar de trabalhar, na qual procura integrar os aspectos psicomotores, emocionais e de linguagem no atendimento ao adulto que gagueja. No Capítulo VII, Alterações na Fluência: Atendimento em Instituição, Eliana relata sua experiência de mais de 20 anos no Ambulatório de Fluência do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Ao criar o Ambulatório de Fluência, implantou o atendimento às pessoas com queixa de gagueira, como prefere dizer. O texto lembra um relato de caso, descrevendo em minúcias o atendimento, desde o momento em que a pessoa procura o setor, passando pela avaliação, a inserção, ou não, em um dos grupos de atendimento, as atividades realizadas nesses grupos e, por fim, menciona a ocorrência de muitos resultados positivos. Espero que este livro, fruto de tanto empenho, signifique para o leitor uma possibilidade de reflexão e crescimento profissional.