Poeta de áspero destino, boêmio, alcoólatra, dominado pelo instinto de autodestruição, vivendo sempre sem pouso certo, entre cidade e campo, Fagundes Varela representa no romantismo brasileiro o caso mais extremo de angústia, desadaptação e revolta. Em seus versos nenhum desses sentimentos é artificial, como em tanto de seus colegas de geração. Cada um de seus poemas foi vivido, sentido, sofrido, fruto de uma experiência amarga, de um amor correspondido, de uma desilusão amorosa ou da morte de um ente querido, como o pungente Cântico do Calvário, escrito pela morte do filho Emiliano, uma das mais belas elegias da língua portuguesa. Nascido em 1841, em Rio Claro, Rio de Janeiro, Varela estudou Direito nas faculdades de São Paulo e Recife, sem concluir o curso, mas desfrutando de imenso prestígio entre os colegas. Casou-se duas vezes, foi amante da mundana mais popular de São Paulo, Ritinha Sorocabana, dois de seus filhos morreram prematuramente. Tinha horror aos ideais de vida burguesa. Nunca trabalhou. Como observa Antonio Carlos Secchin em Melhores Poemas Fagundes Varela, "levou às últimas consequências a vocação 'maldita' de ser poeta". Morreu em 1875, em Niterói. Poeta de transição, herdeiro do byronismo de Álvares de Azevedo e do lirismo singelo de Casimiro de Abreu em seu primeiro livro (Noturnas), logo impõe a sua forte personalidade poética, modulando temas abolicionistas, libertários e religiosos. A nota mais pessoal de sua poesia está ligada à sedução da vida na natureza, em contraste com as suas periódicas crises de atração e repulsão pela cidade, expressa em inúmeros poemas: "Eis a cidade! Ali a guerra, as trevas,/ a lama, a podridão, a iniquidade;/ aqui o céu azul, as selvas virgens,/ o ar, a luz, a vida, a liberdade!". Neste conflito viveu, neste conflito morreu.