A Filosofia ocupa-se de pensar a infância, relacionando-a de maneira fundamental à atitude de questionamento, própria, a um só tempo, ao ser-criança e ao filosofar. Para mostrar-se fiel ao que os diversos pesquisadores apresentam, talvez se devesse falar de infâncias, que, sem perderem o seu pendor de abertura ao mundo e ao seu questionamento, ganham diferentes determinações de acordo com os cenários existenciais em que se situam. A filosofia se encontra com as crianças no processo de ensino-aprendizagem, quando o educador se investe da tarefa de provocar as crianças ao pensar, preservando nelas uma certa predisposição crítica condizente com o processo do filosofar. Assim, mostra-se a necessidade de levar a Filosofia mesma a refletir sobre as condições de possibilidade apropriadas ao seu ensino. Embora o ensino da filosofia às crianças privilegie a educação formal, reflete-se aqui também sobre a relação dos infantes com os adultos, em uma perspectiva mais ampla, como ocorre na dinâmica de transmissão do habitus dos adultos às crianças. De certo modo, o processo de socialização pelo habitus acaba neutralizando o fervor de questionamento infantil em nome da padronização dos sentidos do mundo. Por vezes, considera-se a criança desprovida de uma cultura própria, negando-se a ela autonomia e a possibilidade de protagonismo como sujeito epistemológico e ético-político. Essa visão de assujeitamento da criança pode ser flagrada na concepção comum da criança como tábula-rasa. Contrapondo-se a essa tendência de definir a criança pelo seu assujeitamento, tem-se reconhecido nela um sujeito de direitos, capaz de assumir certa autonomia e modo de ser próprio.