Este ano vamos falar do inconsciente. O problema, como vocês sabem, é que não se pode falar daquilo que não existe. Mas e o inconsciente, então? Falamos dele, ele existe ou é uma ficção? É preciso ousar fazer essa pergunta, já que há tantos revisionistas negadores do inconsciente. Proponho, então, como epígrafe do ano a afirmação de Lacan segundo a qual "O inconsciente é um fato, na medida em que se sustenta no próprio discurso que o estabelece". Ele "só ex-siste em um discurso". Colette Soler (Formações Clínicas do Campo Lacaniano, Colégio Clínico de Paris, 2007-2008) Podemos pensar que não estamos mais na época de Freud, quando este precisava defender, argumentar, advogar a sua invenção. Não, decerto, mas talvez esteja pior, pois tanto a banalização e a galvanização abusiva quanto a denúncia, por vezes feroz, do discurso da ciência desbancando a psicanálise, necessitariam talvez de uma vigilância e de uma postura mais tônica, e até mesmo mais despudorada, daqueles que se responsabilizam em transmitir a especificidade do discurso analítico e sua operatividade peculiar. (Da apresentação de Dominique Fingermann)