A Poesia de Fernando Pessoa (1888-1935) apresenta-se sob os auspícios de uma figura misteriosamente ordenada em quatro nomes: Alberto Caeiro, o mestre, Fernando pessoa-ele-mesmo, Ricardo Reis e Álvaro de Campos, os discípulos- estes poetas não são pseudónimos do autor, mas quatro "heterónimos", segundo a designação por Pessoa. É uma crise da filosofia, vivida por Pessoa com angústia, que está na origem destes nascimentos múltiplos do poeta. Desde logo se impõe a tarefa de separar a poesia metafísica, enquanto o poema não renuncia a formar um pensamento do ser por outras vias. Este vasto projeto de uma ontologia, onde o poema se responsabiliza por certas tarefas da filosofia debilitada, distribui-se pelas figuras do Guardador (Caeiro), do Ficcionador (Pessoa antónimo), do Supressor dos deuses (Reis) e do Velador (Campos). O desiderato deste livro é o de mostrar em que sentido Pessoa foi o Barqueiro metafísico deste século.