Celso Gutfreind é um poeta de conteúdo. Nele, a forma é menos jogo e mais suporte para o discurso. Ou, sua busca formal, desde os primeiros livros, é a construção de um discurso próprio que seja a fala do seu conteúdo. Mas vamos, num movimento de lupa do computador, olhar mais de perto que conteúdo é esse. Ali está: o nome desse conteúdo é vida. Mais perto: ser humano. A poesia de Celso é uma investigação do humano. Muito mais do que a vida como um todo. Muito mais do que a paisagem, os bichos, os astros. Celso quer saber do homem. E da mulher. Dos dois juntos e separados. Do que há de humano em cada um. E também do que há de desumano, de irracional, de puro desejo e desatino. Já chamou o que escreveu de Arte de rua, título de um dos seus livros. Já fez poesia em quadrinhos, com personagens. Passa em revista a família, o pai, a mãe, a criança, a juventude e a velhice. Vasculha o que há de um humano em si mesmo e no mesmo movimento vai em direção ao outro. Em direção a nós todos. Nós, leitores, acabamos entrando nesse rolo. Por isso, sua poesia nos inquieta, faz a gente tomar partido. O que é humano é ambíguo, vago, mas também carne e osso. Poesia com sustança, que alimenta. Um prato cheio para uma boa leitura esses Trechos do Celso.