O livro Lirismo, Melancolia, Poesia busca olhar para a melancolia por meio de uma perspectiva criativa, considerando a experiência melancólica como condição intrínseca do ser humano, seja por temperamento, perdas, transformações ou fases de vida. Como estado natural da alma, a experiência da melancolia pode ser vivenciada por todos. Orfeu em busca de Eurídice no Hades é a referência mítica para o tema da perda da alma e de seu entrelaçamento com a poesia, com o lirismo e com o mergulho na noite escura da alma. Na perspectiva junguiana o inconsciente coletivo como natureza é uma escuridão que contém sua própria luz. Tendo a melancolia como fio condutor, o texto percorre vivências de transformações e perdas. Há uma falta arquetípica na melancolia, a vivência de ter sido apartado de algo a priori. O tema arquetípico do duplo e sua relação com a perda de si mesmo e da identidade surge como base de reflexão e elaboração. Nas confluências e ramificações dos temas, poemas surgem ao longo do texto, entremeando o fazer analítico e a vivência poética. A poesia é facilitadora da entrada no inconsciente mundo de paradoxos, de opostos, de imagens; contrários que se unem inusitadamente e se revelam. A linguagem do inconsciente é mítica, poética e simbólica. Imagens primordiais, voz atemporal, metáforas; o paradoxo de descobrir semelhanças ocultas entre objetos diferentes, a união de opostos, o encontro transformador. O livro fala de poesia, de melancolia ou do fenômeno de transformação que ocorre na análise? A proposta é de interlocução, de troca entre fronteiras; no entender da autora esse é um território fronteiriço. Como fronteiriço é o próprio espaço e o trabalho analítico, sempre entre dois mundos, o do consciente e o do inconsciente coletivo, assim como o mundo da poesia, do poema, entre a palavra e o que está além da palavra.