A sexta-feira santa é tida, no imaginário religioso do catolicismo popular, como um dia assustador. Dia de resguardo, mais por medo que por devoção. Dia em que, segundo os mais antigos, devia ocorrer mudança no comportamento social, inclusive nos hábitos diários da família, como nos trabalhos domésticos e na alimentação. Devia se cumprir um ritual sagrado de normas, regras, recomendações e proibições que restringiam os costumes cotidianos. Tais regras, se desrespeitadas, podiam acarretar desgraças na vida do infiel. Casos assombrosos ocorridos em conseqüência do desrespeito a essa data povoam o imaginário católico. Alguns destes casos estão reunidos neste livro. São expressões de experiência peculiar de vida coletiva de diferentes regiões do Brasil, constantemente vivida e revivida pelos praticantes do catolicismo popular que inspira e orienta comportamentos, de geração em geração. É um trabalho de gênero etnográfico, com o objetivo de agrupar e analisar "os encantamentos da Sexta-feira Santa" e seu contexto (a Quaresma), redesenhando aspectos culturais da religião popular que estavam esquecidos. É um estudo descritivo e circunscrito à área do catolicismo, cujo objetivo é a investigação da literatura folclórica religiosa brasileira de influência lusitana.