Ao longo de sua vida e sua obra Karl Marx tinha duas preocupações centrais: compreender o movimento de constituição da sociedade burguesa, cuja base é a exploração do trabalho pelo capital, sua lógica e sua dinâmica de funcionamento; e contribuir para a transformação dessa sociedade em favor da maioria, dos trabalhadores e trabalhadoras. É a partir disso e nessa perspectiva que ele e Friedrich Engels constroem um edifício teórico ainda fundamental para compreendermos o mundo hoje, justamente por não se constituir como um dogma, como uma verdade que paira acima de tudo, mas por trazer um método de análise das contradições entre as classes sociais que compõem a sociedade. Em 1881, dois anos antes de morrer, Marx se aproxima da tradição revolucionária russa esta já sob influência de sua obra, O Capital, publicado em 1867 e com os debates a respeito da constituição de uma sociedade socialista a partir de um capitalismo atrasado, periférico. Seu interesse pela Rússia aumenta, vê ali uma possibilidade de revolução e, tendo em conta a realidade desse país, se dedica a refletir, principalmente, sobre o papel dos camponeses nesse processo. Esse é o tema em torno do qual gira Marx tardio e a via russa: Marx e as periferias do capitalismo, organizado por Teodor Shanin, professor da Escola de Ciências Sociais e Econômicas da Universidade de Moscou e da Universidade de Manchester, e membro da Acadêmia de Ciências Agrárias da Rússia. Este livro, dividido em três partes, traz diferentes interpretações sobre o pensamento de Marx nesses seus últimos escritos; recupera as suas formulações por meio das cartas que trocou com Vera Zasulich; e traz textos de N. Tchernichevski e documentos da organização A Vontade do Povo, expressivos da tradição revolucionária da Rússia, estabelecendo pontes com o pensamento de Marx. Longe de ser um debate pacífico, esta obra se caracteriza pela polêmica criativa com relação à teoria social desenvolvida por Marx e Engels [...]