O objetivo da poesia que mereça assim ser chamada é pôr a linguagem em xeque e, a partir daí, provocar uma releitura de presente e passado. Pensando nessa direção, Roça barroca, de Josely Vianna Baptista, é um norte. Ele lida diretamente com a história de um povo indígena, os Mbyá-Guarani, e seu mito da criação do universo a partir do verbo. Ao lado das questões que suscita, sua tradução é entusiasmante pela recuperação de valores estéticos, não como apropriação dominadora, mas como abertura a essa fonte talvez surpreendente. A bela aventura de Josely ao trabalhar a poesia formadora do mundo leva a um rompimento com a ideia que se tem da poesia reduzida a gênero literário, recuperando-a em sua matéria de vida anterior a determinados conceitos funcionais de literatura. Com Roça barroca, a poeta traz para a literatura brasileira uma proposta de reflexão criativa. Abrangendo traduções e os poemas próprios de Moradas nômades, não há, a rigor, dois livros neste volume, pois as duas partes se completam. Como diz a poeta: Nenhum gesto/sem passado/nenhum rosto/sem o outro. Moacir Amâncio