CLAUDE NAVELET e BRIGITTE GUÉRIN-CARNELLE são psicólogos e professores universitários. Esta obra fala sobre o "mundo real" das práticas clínicas nas instituições de saúde. A perspectiva dos autores foi, num primeiro tempo, não isolar a actividade dos psicólogos das outras práticas profissionais, já que são estreitamente intrínsecas. O livro é também composto por testemunhos de profissionais empenhados: psicólogos, médicos, trabalhadores sociais, educadores, directores de instituições, membros dos conselhos de administração de instituições de saúde, professores universitários encarregues da formação de psicólogos. Esta exposição convence-nos de imediato que o isolamento, a deterioração e a violência não são característicos de uma determinada categoria social, mas partilhados por todos aqueles que trabalham neste tipo de instituições. Foi entre estas fronteiras que os autores situaram a sua análise. Comentam com precisão, lucidez e coragem as situações de confusão e sofrimento em que os profissionais e os doentes se encontram actualmente mergulhados. Com a leitura deste livro, é possível descobrir os efeitos mortíferos da incompetência profissional e as situações inextricáveis criadas pela confusão de cargos, modos de intervenção e poderes. É também possível perceber que a profissão de psicólogo clínico, tal como é realmente exercida, nunca foi alvo de reflexão, que se limita normalmente ao encontro entre psicólogo/doente e que usa e abusa do modelo analítico. Sobre este ponto, as páginas dedicadas à análise de funções do psicólogo clínico, e por isso à especificidade das suas intervenções e à distinção fundamental proposta entre psicólogo institucional e psicólogo psicoterapeuta, representam um contributo importante para a construção da identidade profissional dos psicólogos, condição essencial para que se possam reconhecer, respeitar e fazerem-se respeitar. Se ser psicólogo já não é apenas uma característica de personalidade mas uma profissão, é preciso entender que o tratamento psicológico de pessoas e situações se aprende com o decorrer de uma formação e que não pode ser deixado sob o improviso da boa vontade ou de um qualquer interesse de poder. A competência está na base da ética. Também se pode descobrir que a formação e o exercício crescem no meio da ignorância tranquila e sustentada dos quadros legislativos, administrativos, institucionais e deontológicos, a partir dos quais os autores mostram como o respeito condiciona imperativamente uma prática clínica que se quer correcta. Este livro clarividente e sólido resulta numa série de propostas aplicáveis que permitem uma saída da situação actual, sendo assim possível inspirar os universitários para o seu estudo e os profissionais para a sua aplicação