Glauco Mattoso é um caso único na literatura brasileira. Esse estranho e prolífico poeta incendiário o mais maldito dos poetas brasileiros era apenas um daqueles que, nos anos 70, irreverente e jovem, escandalizava os burgueses com seus versos furibundos e anti-higiênicos, impressos em qualquer papel e vendido nas ruas de mão em mão. Foi-se a poesia marginal e alguns poetas vestiram paletó e gravata para cuidar de suas vidas na Bolsa de Valores. Outros perderam o encanto e gosto pela poesia. Houve até quem se matasse de desgosto ou de desencanto pela própria vida, sem dúvida um direito. Glauco, que tinha motivos para se desgostar como Borges, foi ficando progressivamente cego, coisa terrível para quem adora ler, continuou poetando. E, que coisa estranha: quanto mais cego, mais ele parece enxergar o que se deve criticar com seus versos cáusticos. O soneto, forma clássica eternizada por Camões e Shakespeare, não é mais utilizado pelos poetas modernos mas é com ele que Glauco Mattoso ataca (e como ataca!) a trágica mediocridade da política brasileira, sem deixar pedra sobre pedra. Glauco Mattoso retoma um de seus temas prediletos com os cem sonetos selecionados, todos numerados, de sua impressionante produção., neste livro surpreendente.