Os poemas deste livro traçam imagens entrecortadas, típicas do movimento de refração. A velocidade não é mais a mesma de um segundo atrás, e o que vemos são objetos que parecem partidos. Mas é uma ilusão, tudo permanece onde sempre esteve, nossos olhos é que se movem com mais vagar, despercebidos. Patrícia do Amaral usa as palavras para habitar uma espécie de borda da linguagem; ela toca o limite com as pontas dos dedos, e nos conta com palavras do lado de lá o que viu. A margem não é mais a mesma entre o que vemos e o que somos. Como se o corpo se tornasse um órgão expandido, consciente das ínfimas pequenezas ao seu redor no fundo, os poemas recolhem inúmeros excertos sobre o encontro, possível e impossível, com o outro, aquele que está sempre um pouco mais além. Entramos em cenas íntimas do eu, permeadas pela natureza, pela madrugada, pelo correr dos dias. O que resta é sempre algo sensorial, imagens-texto que habitam um mundo inteiramente novo e apenas referenciado naquele (...)