“Eu existo”, constata Ruby Lennox, no exato momento de sua concepção. Era meia-noite, início dos anos 50, na fria e cinzenta cidade inglesa de York. Começa a viver a terceira filha de George e Bunty, que vai contar a história de cinco gerações de uma família comum. “Eu existo”, pode muito bem ter pensado a escritora Kate Atkinson, diante das repercussões iniciais do romance “Por trás das imagens no museu”. A autora manipula o material com a segurança dos melhores e mais tradicionais autores ingleses. Além da sonhadora Ruby, desfilam sua bisavó, avó e irmãs. Mulheres perdidas no tempo, com as vidas delineadas pelos homens com quem casaram, estão longe de ser personagens adoráveis, mas são frágeis e honestos. Kate Atkinson administra de forma poética as digressões e detalhes inconseqüentes que utiliza para ironizar e minimizar a tragédia de equívocos, perdas e acidentes. O contraste está nas imagens fortes construídas por uma linguagem precisa e poderosa. A autora oferece um romance que, embora não seja autobiográfico, “foi uma maneira que encontrei de colocar algumas coisas da minha vida. Dependendo do ponto de vista, levei dois meses para escrevê-lo – ou a vida inteira”.