Amira Rose Medeiros tem dois amores: a medicina e a literatura. Transita entre eles e deixa marcas visíveis dessa imbricação. A ruivinha do sinal vermelho, seu primeiro livro de contos, é uma prova disso, seja na forma ou no conteúdo. Como numa aula de anatomia, secciona-o em três partes. Na primeira, o objeto de estudo é o tecido social. É a parte mais densa do livro, na qual Amira expõe as mazelas das desigualdades sociais de um corpo doente, a sociedade. Destaco quatro contos. As mulheres coloridas do sinal, cujo título é uma espécie de falsete, pois mal consegue esconder a dor e o sofrimento de uma diáspora. Escolha o que quiser, que descreve a difícil arte da alteridade e de como ela pode surgir de onde menos se espera, como mostra seu desfecho, um tapa com luva de pelica contra os pré-juízos. Mas nem tudo está perdido, a julgar pela lição dada no conto O doador do corpo, que, a par de ter a ficção da escritora invadida pelo conhecimento científico da médica, é um exemplo (...)