Em um nível Google do conhecimento humano, descubro que um dos possíveis significados do nome Lídia -gentílico dos habitantes da Lydia, antiga região da Ásia Menor-, é ‘aquela que sente dores de parto’. Verdade etimológica ou não, é esta a mais-que-perfeita tradução da autora destas lascas. A personagem, de pijama, na cozinha, prepara o ritual: de duas em duas rasga as folhas, Em seguida é o momento da distribuição: lixo do banheiro grande: vergonha. ‘Não sei escrever nada decente’. Lixo reciclável da lavandeira: raiva. ‘Que merda!’ Cinco passos e o lixo do banheiro pequeno: medo. ‘Se fosse eu tentaria procurar as partes desses papéis!’. Acabou Autocrítica implacável, sísifa praticante -desde sempre se esmerando na ocultação de sua produção escrita- eis que, neste momento, Lídia lasca sua pedra de auto rejeitados e adentra o paleolítico de sua produção. Os artefatos que modela não são de fácil empunhadura. São lascas de uma sofisticada fórmula lógica aplicadas à paixão. Há artefatos cifrados. Lídia nada o mar revolto da angústia, na madrugada de espera. Aqui e ali, artefatos de mesóclises, lindo isso! Lascas de insônia, em que mães são presenças sempre em excesso.Observadora irrecuperável, segue essa mulher sem nome e sem rosto a tramar vinganças em meio a angústias gramaticais, no desejo de se inscrever no corpo do amante, em caminhadas rituais por botecos e salas de aula. Sobretudo, no cara a cara com a solidão. A vida bem poderia ser um simples e bom seminário acadêmico. Já que não é, Lídia não se furta a parir em dores, mas nunca se entrega. Sorte a nossa, voyeurs que somos. sermos chamados a espiar o seu labor. Etel Frota