Sir Arthur Evans foi o arqueólogo responsável pela escavação e descoberta do Palácio de Minos, o suposto covil do lendário minotauro. Em 1900, durante uma escavação em Cnossos, Evans descobriu e revelou ao mundo sua estupenda e impressionante recriação da civilização minoana. Minotauro, de Joseph Alexander MacGillivray, é a primeira biografia sobre este homem notável, cuja descoberta mudou os rumos da arqueologia e história das civilizações. MacGillivray, contudo, ultrapassa o perfil do desbravador que apresentou ao mundo sua recriação de toda uma civilização, e traz uma obra “em camadas”, na qual vamos descobrindo a construção das verdades relativas da história e da arqueologia. No final do século XIX, a arqueologia deixava de ser uma espécie de caçada internacional de tesouros, financiada por milionários, para se tornar uma disciplina acadêmica com cânones e procedimentos definidos para conduzir escavações, preservação de peças e publicações. Após tentar, sem sucesso, uma carreira como jornalista nos Bálcãs, Evans foi para a Grécia. Na época, Heinrich Schliemann, pai da arqueologia moderna, anunciava aos quatro ventos a glória de ter localizado Tróia e Micenas. Diante disso, Evans foi até o local disposto a encontrar bases factuais que provassem os mitos que o atraíam e que estudou ao longo de toda sua vida. Em Creta, acreditou ter encontrado as origens de rituais da mitologia teutônica, que na Europa eram ligadas a cultos da civilização minoana. O tráfico e a falsificação de relíquias; ataques dos acadêmicos de Cambridge aos partidários de Evans baseado em Oxford; sua homossexualidade exposta em notas policiais; o jogo de poder entre as potências européias e o Império Otamano estão entre as peças que tornam esta narrativa um questionamento sobre nossa compreensão do passado através do legado arqueológico. Em Minotauro, MacGillivray consegue mostrar que o feito de Evans antecipou históricas descobertas futuras. O autor apresenta, ainda, como as lendas que envolvem o Palácio de Minos — atração visitada por 900.000 turistas por ano em Cnossos — foram reflexo das expectativas de seu desbravador: “O sexo dos animais sacrificados também foi alterado. Para se manterem fiéis às lendas gregas, tornaram-se touros”, escreve.