A reflexão acadêmica sobre a presença de igrejas evangélicas pentecostais no meio urbano remonta a já clássica obra de Cândido Procópio Camargo nos anos 1970. O pentecostalismo funcionaria para ele como uma referência simbólico/social para populações que, fruto do êxodo rural, aportavam à cidade em situação de anomia e desenraizamento. De lá para cá, com o adensamento populacional nas grandes metrópoles brasileiras, formaram-se imensas faixas de periferia ao redor destes centros urbanos, geralmente carentes dos serviços básicos de infraestrutura. Estudos demográficos como o Atlas de filiação religiosa e indicadores sociais no Brasil de César Romero Jacob e equipe revelam que nesses espaços urbanos periféricos concentra-se um alto percentual de adeptos do pentecostalismo. É sobre este fenômeno que muito oportunamente o livro Evangélicos e periferia urbana em São Paulo e Rio de Janeiro. Ensaios de antropologia e sociologia urbanas vem se debruçar. Evitando soluções fáceis, como a associação "naturalizada" entre pentecostalismo e pobreza, escudado em pesquisas de campo, entrevistas nas áreas periféricas e favelas do Rio e de São Paulo, revela toda uma complexidade de articulações entre a condição de morador de periferia e a pertença/preferência pentecostal. A escolha pentecostal aparece nas páginas deste livro em sua diversidade de alternativas, ora como instrumento de organização e contestação, ora como conformismo e utilitarismo. Por fim, um livro produzido na interface entre uma sociologia/antropologia da religião com uma sociologia/antropologia urbana, onde ambas iluminam-se mutuamente, tendo como resultado uma análise densa desta realidade candente do Brasil contemporâneo.