Verena Cavalcante estreia na literatura praticamente criando um gênero – e isso não é pouca coisa. O gênero em questão (para o qual os críticos encontrarão algum rótulo) é o conto-de-horror-narrado-por-crianças. Não que seja uma novidade completa, já que alguns autores também experimentaram esse formato – mas Verena vai além, explorando peculiaridades deste tipo de narrativa. Seus narradores infantis têm inocência, ingenuidade e claudicância próprias, são verdadeiramente crianças, e falam, muitas vezes, como o brasileiro adulto semialfabetizado, o homem do mato, o trabalhador do campo, o que nos remete a experiências literárias brasileiras profundas, como as de Guimarães Rosa. Mas não há dúvidas de que são crianças – e devemos ter isso em mente para que o teor desses relatos fale à nossa psique. Há também, nestes contos, certa familiaridade.